Fontes de problemas para a mística e a pastoral, a histeria e o histérico têm condições de manchar a reputação inteira de uma congregação, protagonizar os maiores escândalos paroquiais e simular desde um glorioso encontro com o Supremo Senhor até uma possessão diabólica digna de Hollywood – desde que o doente modifica a voz, a conduta, a fisionomia e até as dimensões de seu próprio corpo e muitas vezes não tem culpa de nada.

 

Histeria

A palavra acima deriva de “Hystera” (útero), tendo sido escolhida pelos gregos, para designar um conjunto de sintomas, atribuído à migração dêsse órgão pelo corpo. O próprio Hipócrates, pai da medicina, compartilhava dessa idéia. Entretanto, durante muito tempo, crises hoje rotuladas de histéricas eram englobadas com outras atribuídas à doença sagrada “morbus saccer”, como foi a epilepsia cognominada pelos antigos. Na Idade Média, atribuiu-se essas crises à possessão demoníaca, procurando-se “estigmas”, zonas de insensibilidade, por onde o diabo penetraria, tornando a pessoa “possessa”. Com a volta à idade da razão, muitos prosseguiram com a idéia da ligação entre histeria e sexo, julgando-a como crises nervosas femininas, devidas principalmente à falta de satisfação sexual, noção ainda hoje popularmente em voga.

No século XIX, quando toda a psiquiatria se imbuiu fortemente de influências biológicas, atribuíram-se esses sintomas a distúrbios cerebrais, repudiando-se as teorias sexuais. Charcot, destruindo essas idéias acanhadas, chamou a atenção sobre o poder traumático de choques emotivos, a seu ver capazes de serem aliviados pela sugestão e pela hipnose (por êle considerada como possível de ser obtida só nesses pacientes, noção refutada pela escola de Nancy). P. Janet prosseguiu cuidadosamente os estudos de Charcot, assinalando a existência de uma dissociação de idéias, para fora da consciência. Julgou poder ser a histeria, considerada como doença da síntese da personalidade, de origem provavelmente hereditária, seguindo a tendência da época. Babinski, grande neurologista desse tempo, definiu a histeria como “tudo o que aparece pela sugestão e se elimina pela persuasão”, propondo o têrmo “pitiatismo”, como substituto.

Em 1893, Breuer e Freud publicaram o caso hoje famoso de Anna O., marco inicial dessa árvore fantástica de tantos ramos, a doutrina psicanalítica, por cujo florescimento foi Freud inteiramente creditado, pois Breuer, prudente e receoso em enfrentar as idéias e a moral da época, não mais quis prosseguir na associação, logo após as primeiras descobertas.

Estas concluiram serem sexuais os traumas emotivos, responsáveis pela “dissociação” de Janet, por Freud denominada “repressão”. Notando como a paciente lembrava-se e descarregava-se das emoções ligadas aos acontecimentos reprimidos, estabeleceram sofrer a pessoa histérica, principalmente, de reminiscências, em geral da infância.

Daí surgiram as idéias básicas para o conceito moderno de histeria, essencialmente psicodinâmico, considerando-a como doença (de ambos os sexos e não só do feminino como se julgava) devida à “conversão” de conflitos emotivos em sintomas (psíquicos ou somáticos), de polimorfismo tão acentuado que essa modalidade de neurose tem sido chamada “a grande imitadora”. As características clínicas essenciais desse quadro psiquiátrico, incluído no grupo das neuroses, podem, para Wilfred Abse, ser sintetizadas da maneira seguinte :

1) Um grupo de sintomas físicos, sem lesão estrutural verificável, como por exemplo a paralisia de um braço, um distúrbio da sensibilidade, e assim por diante.

2) A complacência do paciente, diante de comprometimentos funcionais relativamente graves pelo menos na aparência. Esse traço típico, já notado por Janet, foi por ele denominado “a bela indiferença”.

3) Distúrbios dissociativos episódicos, na forma de uma fragmentação molar (de um todo) da personalidade e não molecular (em pequenas partes) como ocorre na esquizofrenia. O caso de Eva, relatado por Thigpen e Clekley e filmado (“As três faces de Eva”), é um exemplo típico de dissociação molar, formando-se três personalidades. Posteriormente, surgiu uma quarta, cujo aparecimento a própria paciente relata, no “A Face Final de Eva”, livro já lançado pela IBRASA entre nós.

A forma mais simples de dissociação é a “amnésia lacunar”, ou seja, a falta de lembrança para uma série de ocorrências de determinado período na vida da pessoa, acontecimentos que investigações posteriores revelam como associados a fortes emoções. Nas tensões observadas em combate, esse fenômeno foi observado com relativa frequência entre soldados, constituindo-se em uma das modalidades das chamadas “neuroses de guerra”. Durante o período de amnésia (dissociação), o paciente exibe um comportamento que não é acidental, mas com uma finalidade inconsciente, buscando retornar a um período e lugar onde e quando conseguia satisfações máximas e, assim, tenta fugir da situação presente frustradora.

Nessas reações dissociativas, o paciente em geral revela uma atitude muito semelhante à dos sonâmbulos, a qual se deflagra espontaneamente ou pode ser evocada pela hipnose ou pela narcoanálise, processo em que se usa uma injeção de um barbitúrico, na veia, colocando o paciente em estado de embriaguez semelhante à alcoólica, enfraquecendo assim seu “ego”, sua capacidade integrador a e facilitando o domínio da personalidade por impulsos inconscientes. O dr. Thigpen, no livro sobre Eva, e o artista que o representa na fita ilus¬tram bem a obtenção dessas reações através da utilização do hipnotismo. É claro que casos como esse, de personalidades múltiplas alternadas, são muito mais complexos e raros do que uma “fuga” transitória e depois esquecida. No capítulo “Dr. Jekyll and Mr. Hyde”, nós os estudamos com maiores detalhes, ressaltando como os antigos os incluiam erroneamente como formas de epilepsia, doença onde as “fugas” são “ausências” fugazes e muito mais desintegradas.

Na época de Charcot, eram comuns as crises da “grande histeria” que, hoje sabemos, eram involuntariamente cultivadas pelo mestre, nos seus experimentos sobre hipnose.

Havia então os “ataques” nos quais as pacientes (pois em geral eram do sexo feminino) apresentavam crises espetaculares, chegando a ficar dobradas em arco (“histeria em arco”). Crises desse tipo, embora ainda suscetíveis de serem observadas, principalmente em pessoas e povos mais incultos, são hoje muito mais raras. Algumas vezes, são do tipo convulsivo, exigindo no diagnóstico uma diferenciação com crises epilépticas, para o que existe uma série de dados conhecidos pelos médicos. Em casos mais difíceis pode-se necessitar a feitura do eletroencefalograma, cujos distúrbios caracterizam a epilepsia.

Paralisias histéricas são fenômenos dos mais comuns, bem como contraturas musculares e impossibilidade de se manter em pé ou andar. Distúrbios da fala são também encontrados, podendo mesmo haver completa afonia. Todos esses sintomas são frequentemente fácil e espetacularmente removidos pela hipnose a qual, entretanto, não atuando sobre a estrutura emocional responsável pelos mesmos, não impede a sua volta ou substituição por outro sintoma ou grupo de sintomas. Câimbras profissionais, como chamada “câimbra dos escrivães” possuem componente histérico evidente embora entremeados com componentes neuróticos de outras modalidades, como a obsessivo-compulsiva.

Distúrbios de sensibilidade são perturbações frequentíssimas nos quadros histéricos. Algias (dores) generalizadas ou localizadas são queixas das mais encontradiças. Estas últimas deram origem ao conceito das “zonas histerógenas”, as quais eram utilizadas tanto para estimular como inibir um ataque histérico. Diminuição da sensibilidade, provocando anestesias maiores ou menores, são também comuníssimas e facilmente diagnosticáveis, por não corresponderem ao trajeto dos nervos. As vêzes, são bem delimitadas, formando verdadeiras “ilhas” que, no tempo da “demonologia” (onde a histeria era inconsciente e involuntàriamente cultivada pelas crenças e atos religiosos primitivos, como i-inda hoje ocorre, embora apenas em setores menos diferenciados da população), eram consideradas como pontos por onde o diabo penetraria para tomar posse daquele corpo e produzir seus efeitos maléficos, entre os quais se incluíam as crises convulsivas e contraturas.

A verdadeira natureza da histeria e seu cortejo enorme de sintomas, só foi melhor compreendida após o advento da psicanálise, principalmente com a idéia de “conflitos psicológicos inconscientes”, os quais são suscetíveis de ser “convertidos” em sintomas dos tipos acima citados. Por isso, modernamente, fala-se em “histeria de conversão”, para se designar todo esse polimorfismo patológico, o qual justificou a cognominação de “a grande imitadora” para essa síndrome (conjunto de sintomas) neurótico. Estudos psicodinâmicos modernos mostraram como entre outras “soluções para conflitos”, que representam os sintomas, uma delas é a “identificação múltipla”, fazendo com que o paciente realize atos contraditórios, como uma paciente de Freud, com tendências exibicionistas, que com uma mão tirava as roupas e com a outra procurava novamente recompor-se. Significado simbólico dos sintomas é também comum, bem como o seu característico de “solução de meio-têrmo” entre vários conflitos emotivos que o paciente inconscientemente procura solucionar.

Em relação ao tratamento, o ideal seria sempre a psicoterapia reconstrutiva de base psicanalítica, procurando compreender, juntamente com o paciente, o significado dos sintomas, dentro de uma relação terapêutica onde surgem todos os fenômenos clássicos da psicoterapia dinâmica. Infelizmente, nem sempre é tratamento possível, de modo a se poder recorrer a formas superficiais de psicoterapia (sugestão, persuasão, hipnose) de forma dominadora em geral, ou aos “tranquilizadores”. Em alguns casos, para a remoção de um sintoma, mesmo o eletro-choque ou injeções de cardiazol têm sido utilizados. São ainda “muletas úteis”, enquanto a psicoterapia reconstrutiva não se torna processo melhor conhecido e mais difundido.

Pacheco E. Silva – Sob a luz da psiquiatria, pgs. 280-284 – Editora Anhambi

O Caráter histérico 

O que se entende por «carácter histérico?» Por outras palavras, qual é a causa das reacções histéricas? Há quase tantas teorias e sugestões sobre a natureza da histeria como autores que se têm dedicado ao assunto. Alguns dizem que a histeria é fundamentalmente um fraccionamento da personalidade (Janet); Para Babinski, é um fenômeno de contra-sugestão; outros afirmam que se trata de um mecanismo de defesa contra os factos ou actividades que se relacionam com o prestígio da personalidade do indivíduo (Claparède), ou de um fenômeno de regressão (Breur, Freud), etc. Não estaria de acordo com o carácter deste livro apreciar os méritos destas teorias; diremos apenas que a teoria que considera a histeria com: um estado de regressão à infância é muitas vezes aceite, porque parece explicar um grande número de manifestações histéricas e constituir a base sobre a qual é possível compreender vários outros pontos de vista. Segundo esta teoria, as manifestações histéricas são reminiscências do espírito infan­til. Os histéricos, com efeito, actuam às vezes como crianças resmungonas e desagradáveis que, por meios directos ou indirectos, tentam obter o que desejam e que, não obtendo o que querem ou porque receiam ser punidas, recorrem a toda a espécie de meios: desmaios, soluços convulsivos, doen­ças fictícias, etc. Como as crianças medrosas, os histéricos tentam fugir às dificuldades da vida, e, como elas, são inconstantes nas suas amizades e ressentimentos. O histérico quer ser constantemente amimado, quer que lhe testemunhem interesse e simpatia: em resumo, é um egocêntrico que pretende afirmar-se a todo o custo, e nisso encontra uma compensação para os seus sentimentos de inferioridade. Como as crianças, tem ten­dência para se jactar, para mentir. Acontece que alguns deles não sabem distinguir muito bem o verdadeiro do falso. Vê-los-emos um dia brincar com um amigo e um momento depois deixá-lo, mostrando que pertencem a essa idade a que os franceses chamam sans pitié. É claro que estas carac­terísticas infantis não se coadunam com a estrutura da personalidade de um adulto. Não existe integração harmoniosa e verifica-se por vezes uma dissociação da personalidade.

Como se desenvolvem as características histéricas? É provável que a hereditariedade contribua para o seu aparecimento. Diz-se que em todo o indivíduo existem elementos de histeria em estado latente; mas para se exteriorizar, esta disposição necessita de ser activada pelo próprio indi­víduo. Uma educação má, o excesso de mimos são de molde a manter o indivíduo num estado infantil. De resto, várias outras circunstâncias podem desencadear a regressão, como, por exemplo, certos conflitos psí­quicos ou amorosos, certas dificuldades de ordem conjugal, mesmo algu­mas crises emocionais. Estas últimas proporcionam-nos muitos exemplos de reacções histéricas causadas por acidentes, neuroses de guerra, psi­coses traumáticas, obusites.

Uma vez que a reacção histérica é provavelmente a continuação de uma atitude de infância, ou uma regressão a essa mesma atitude, todo o tratamento consistirá essencialmente em educar ou reeducar o doente. Com um tratamento psicoterápico apropriado, geralmente sob uma forma qualquer de psicanálise, tentar-se-á, em primeiro lugar, pôr claros diante do doente a origem e o significado das crises de que sofre. Ele terá de se compenetrar, por exemplo, de que, consciente ou inconscientemente, se serve da histeria para fugir às responsabilidades, às dificuldades, às rea­lidades da vida de adulto. É evidente que o enfermo não vai aceitar sem relutância este veredicto e, por isso, o tratamento é geralmente muito moroso. Enquanto a pessoa preferir refugiar-se na doença a curar-se, nada se conseguirá. Por isso, dizem certos autores, não é propriamente o auxí­lio exterior, mas as duras realidades da existência, que hão de ensinar o histérico a tornar-se verdadeiramente um homem. Apesar disso, a prognose das perturbações histéricas é, na maior parte dos psiquiatras, rela­tivamente favorável.

O meio-ambiente do enfermo, a família e os amigos podem contribuir grandemente para a sua reeducação, se adoptarem a atitude que convém; de contrário, podem chegar a agravar o mal. E a melhor atitude consiste em proceder calmamente, abstendo-se os circunstantes de mostrar inte­resse ou piedade.

Pode dizer-se que, de um certo modo, a histeria é contagiosa, por causa do espírito de imitação das pessoas: uma mãe pode iniciar os filhos no mecanismo da histeria, se uma fraqueza psíquica os predispuser para ela. Nestes casos, o melhor seria tomar medidas preventivas; mas é difícil saber como. Estas são, no entanto, da maior importância, quando a histeria se deve a choques emotivos súbitos, como na obusite. O efeito imediato do choque (tremuras, afonia, paralisia) desaparece geralmente pouco a pouco. Contudo, pode persistir no indivíduo, durante algum tempo uma tendência para recomeçar essas manifestações sem qualquer causa concreta. Se se aprender a refrear prontamente essas tendências, que, em última análise, se baseiam no instinto de conservação, elas serão facilmente eliminadas. Caso contrário, desenvolver-se-á no doente aquilo a que Kretschmer chama «maus hábitos», que o transformarão num autên­tico histérico.

Antes de terminar esta secção, não podemos deixar de fazer algu­mas observações de ordem pastoral. Na verdade, apesar de o número de casos agudos de histeria ter diminuído nos últimos anos, ainda há muitos casos menores, com manifestações de instabilidade emotiva em matéria religiosa, que os sacerdotes conhecem. Trata-se de pessoas que umas vezes parecem levar uma vida santa e cheia de interioridade, inebriada de união com Deus, e que outras vezes blasfemam o Criador.

Os doentes deste gênero têm tanta necessidade de simpatia, que procuram monopolizar alguém, nomeadamente os sacerdotes jovens e inexperientes, e atraiem-lhes a atenção com presentes ou apresentando-se como pessoas incompreendidas pela sociedade. Antigamente, associava-se a histeria a uma vida sexual anormal. É certo que o desejo evidente de se sentar diante de um sacerdote, para lhe fazer confidências em voz baixa sobre assuntos de ordem sexual, pode dar a impressão de que se procura qualquer coisa mais do que um conselho sacerdotal. Mas é pro­vável que a maior parte dos histéricos não esteja neste caso. Habitual­mente, o que eles querem é dominar, conquistar, mas não dar-se. É ver­dade que, não conseguindo atrair o sacerdote, alguns histéricos, para se vingarem, procuram difamá-los, dirigindo cartas anônimas aos bispos. Se as dirigirem ao próprio sacerdote, este terá o cuidado de as conservar, depois de as ter mostrado quer ao seu superior, quer a um sacerdote mais idoso do que ele. Acrescentemos de passagem que acontece, por vezes, os histéricos escreverem cartas anônimas a si próprios, implicando outras pessoas.

Daqui se vê claramente que os histéricos são uma verdadeira cruz para o sacerdote. E, no entanto, este não pode abandoná-los, e, limitando-se embora aos planos moral e religioso, terá oportunidade de lhes devolver a paz de espírito, o que até o ajudará a realizar a sua missão. Entretanto, usará das maiores precauções, de toda a reserva e prudência, procurando, em todas as circunstâncias, conservar a sua independência e autoridade. E quando o doente tentar levar a conversa para assuntos religiosos e espi­rituais, deverá impor-se com a maior decisão, apesar de saber que o doente procurará logo outro sacerdote. Certos especialistas da psiquiatria pasto­ral aconselham o sacerdote a prevenir o mal, dizendo: «A experiência ensinou-me que as pessoas que se encontram no seu estado vão pedir conselho a outros, quando compreendem que eu vejo claramente o que nelas se passa. Tem a liberdade de proceder como entender, mas devo adverti-lo de que encontrará o mesmo acolhimento noutro lado. Mas se quiser ficar e escutar-me, poderei ajudá-lo».

Em todas as suas relações com este gênero de doentes, o sacerdote abster-se-á de aceitar o mais insignificante presente, e de receber muitas confidências; deverá, pelo contrário, observar uma reserva completa; não responder às cartas que o consulente lhe dirigir, reduzir o mais possível a frequência das conversações e naturalmente comportar-se com o maior comedimento e sem quaisquer extravagâncias.

Afastará ainda qualquer ideia de vocação religiosa, porque o his­térico só poderia ser um infeliz na vida em comunidade. Além disso, como as mulheres histéricas são facilmente propensas ao ciúme, à desconfiança, ao ataque mútuo, se lhe aparecer uma histérica solteira, o sacerdote acon­selhá-la-á a não pensar no casamento, pois está longe de ser sempre um remédio para a histeria.

No confessionário, os histéricos procuram fazer-se ouvir demorada- mente sobre aquilo que lhes interessa dando pormenores sobre a vida sexual ou contando histórias sobre o próximo. Por vezes, assumem maneiras mais ou menos teatrais — como silêncios súbitos destinados a atrair a atenção ou a apelar para outras perguntas. O sacerdote saberá pôr cobro aos efeitos sensacionalistas desse gênero.

Todos aqueles que têm escrito sobre a psiquiatria pastoral estão de acordo em emitir dúvidas sobre a responsabilidade dos histéricos. Müncker considera-a simplesmente reduzida; De Sinéty, Schulte e Bless são do parecer de que, embora haja alguma responsabilidade nos casos meno­res, não há nenhuma nos casos graves. A este respeito, não devemos esquecer que as emoções violentas levam os doentes a cometerem actos que, dada a sua natureza impulsiva, não são inteiramente voluntários. É evidente que, em casos concretos, é difícil determinar se o carácter impulsivo das manifestações perturba em parte ou totalmente a liberdade da vontade. No que respeita aos actos cometidos numa espécie de estado de sonho ou de semiconsciência, o factor decisivo será o estado de cons­ciência restrita. Neste estado, o doente comete muitos actos em cujas consequências nem sequer pensou. O sacerdote não esquecerá também a possibilidade do acto voluntarium in causa, pois há indivíduos que fazem desencadear o mecanismo histérico para alcançar certos fins proibidos pela moral.

J. H. Vanderveldt e R. P. Odenwald - Psiquiatria e Catolicismo; editora Aster

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