Poderia um espírito “desencarnado” ser reconhecido pelo traçado à tinta de um vivo que escreve em seu lugar?
Vejamos:
A caligrafia é o registro da soma de personalidade + estrutura dos nervos + compleição física do membro agente. Não poderia uma inteligência dominar o corpo de uma outra e manifestar igualmente o mesmo produto gráfico que produziu por outro corpo. Não será portanto o espírito capaz de guardar intacto o inteiro da capacidade de uma atividade que tanto depende de ossos e músculos.
Qualquer um pode perceber o quanto sua caligrafia é alterada quando um único dedo da mão está machucado, inchado; se a caneta é mais ou menos espessa, se o papel é mais ou menos deslizante.
O mesmo se daria por alguém que anda a mancar e se diz tomada pelo espírito de um manco. Quem manca é tão somente o membro lesionado e não o substrato humano imaterial.
Quanto mais a manifestação mediúnica de um morto se assemelhar a quando era vivo, mais claro está que é causada por um vivo mesmo. A psicografia é um misto de linguagem sibilina (isto é: ausência de dados específicos como data, horário, local ou pessoa; mero falatório) com jogo de emoções fortes sobre o vivo que crê reconhecer a letra, e sob a ótica imparcial de um especialista em documentoscopia se revelá uma fraude.
Afinal , por que é que eu nunca vi espírita psicografar um livro de Aristóteles ou descobrir que foi Platão em outra vida?
Por outro lado, diabolizar também os truques de mágica dos médiuns espíritas é um duplo desserviço público, desde que:
- a) Tal atitude infere que conferimos um caráter sobrenatural a eventos que quase nunca têm nada de especial, e quando há, são vulgaríssimos sob uma perspectiva espiritual. Como consequência, confirma a mentalidade espírita a quem tem tendência a aderir a ela: “até os católicos não compreendem nossas maravilhas”;
- b) Ninguém deixa de ser espírita só porque é xingado e nem porque as Escrituras lhes proíbe, desde que se gostassem de bíblia não leriam a Kardec;
- c) Espíritas estão calcados (e impressionados) por fatos observáveis e concretos. É desumano chamar de mentira o que eles experimentam sem lhes explicar os porquês. Quem não estuda detidamente esses fatos não está capacitado para discutir com eles no campo das idéias, porque idéias somente não lhes interessam; e católicos sem noções de parapsicologia ou prestidigitação provocam no espírita o mesmo efeito que nos causam os protestantes mambembes que gritam nos trens de manhã cedo;
- d) A ordem suprema é “Ide e ensinai”, e não “Ide a mentir para os outros; se fazer-lhes católicos estará ótimo”. Deus nos deu inteligência, padres iluminados e todas as condições de aprofundamento nas ciências naturais. Ninguém precisa mentir ou derramar-se em especulações para salvar as almas do erro.A propósito da hipótese demoníaca para explicar a psicografia e demais fenômenos espíritas dados por reais enquanto fatos, não é lícito ao católico especular sobre a atuação diabólica provocada e, por outro lado, jamais se viu ou ouviu qualquer fenômeno que exceda às leis naturais. Recorremos a um grande especialista na seara, o pe. Fernando Palmés: “Nenhum fenômeno alegado pelos espiritistas ou satanistas, devidamente comprovado em existência, pôde ser creditado a forças de fora do mundo natural e ordinário. Que não se explique sobrenaturalmente o que pode ser explicado naturalmente” – Fernando Palmés, S.J; Metapsíquica e Espiritismo (1967, ed. Vozes ltda.), p. 438.
Uma coisa interessante a se abordar seria os passes. Particularmente, não creio que seja sobrenatural mas uma espécie de placebo psicológico, causando alívio aos que recebem.